UMA DOUTRINA PRÓPRIA: Base Sobre a Qual as Cooperativas em Todo o Mundo se Organizam e Operam!

BASE SOBRE A QUAL AS COOPERATIVAS EM TODO O MUNDO SE ORGANIZAM E OPERAM: UMA DOUTRINA PRÓPRIA (Autor: Ainor Lotério)
 
O cooperativismo, desde sua concepção na primeira metade do século XIX em Rochdale, na Inglaterra, tem sido um movimento socioeconômico único, caracterizado por uma orientação doutrinária consistente. Esta doutrina, composta por valores e princípios, forma a base sobre a qual as cooperativas em todo o mundo se organizam e operam.
Os valores, fundamentais e perenes, precedem e dão origem aos princípios, que traduzem esses valores em ações práticas no contexto cooperativista. Um olhar para os desafios socioeconômicos da época que deram origem ao cooperativismo revela a necessidade premente de uma alternativa às condições desumanas impostas pela Revolução Industrial. Nesse contexto, os trabalhadores enfrentavam exploração, baixos salários, condições precárias de trabalho e falta de voz nas decisões que afetavam suas vidas.
 
Os pioneiros de Rochdale, reconhecendo esses desafios, desenvolveram princípios inovadores que estabeleceram as bases para o movimento cooperativista moderno. O cooperativismo, como se sabe, é o único movimento socioeconômico do planeta que se desenvolve sob uma mesma orientação doutrinária, e assim é desde o seu surgimento na primeira metade do Século XIX (1844), em Rochdale, na Inglaterra. 
 
Os direcionadores doutrinários vêm representados especialmente por valores e princípios, adotados em todo o mundo. E o que vem antes? Os valores, perenes, de raízes mais profundas — a base de toda a estrutura —, precedem e dão origem aos princípios. Estes, por sua vez, traduzem os valores e os levam à prática no meio cooperativo. Os princípios são uma espécie de ponte ligando grandes diretrizes a ações.
Para dar a necessária dinâmica e atualidade à doutrina cooperativista, os princípios — diversamente dos valores –- são passíveis de revisão (atualização) na linha de tempo, o que, já aconteceu algumas vezes no âmbito da Aliança Cooperativa Internacional (ACI).
 
Diferentemente dos princípios, delimitados formalmente, não existe rol conclusivo ou exaustivo de valores. Das inúmeras referências feitas por doutrinadores no mundo todo, a enunciação mais recorrente recai sobre a:
 
1) SOLIDARIEDADE, cuja essência reside no compromisso, na responsabilidade que todos têm com todos, fazendo a força do conjunto e assegurando o bem de cada um dos membros. É uma espécie de reciprocidade obrigacional, justificada pelo interesse comum. Ser solidário é praticar a ajuda mútua (esta, por vezes, aparece como valor autônomo), é cooperar por definição, é tornar o empreendimento sólido.
 
2) Liberdade, que está no direito de escolha pela entidade cooperativa, tanto na hora do ingresso como no momento da saída, podendo a pessoa, enquanto cooperado, mover-se e manifestar-se conforme a sua vontade e consciência, respeitados os limites estabelecidos coletivamente.
3) Democracia, diretamente relacionada ao pleno direito de o associado participar da vida da cooperativa em toda a sua dimensão, especialmente pela palavra e pelo voto, implicando, em contrapartida, respeito às decisões majoritárias. Indica também acesso universal, sem discriminação de qualquer espécie. É pela democracia que se exerce a cidadania cooperativa.
 
4) Equidade, que se manifesta, fundamentalmente, pela garantia da igualdade de direitos, pelo julgamento justo e pela imparcialidade, tanto em aspectos econômicos como sociais.
 
5) Igualdade, que impede a segregação em razão de condição socioeconômica, raça, gênero ou sexo, ideologia política, opção religiosa, idade ou de qualquer outra preferência, ou característica pessoal. A todos devem ser assegurados os mesmos direitos e as mesmas obrigações.
 
6) Responsabilidade, que tem a ver com a assunção e o cumprimento de deveres. Como cooperada, a pessoa é responsável pela viabilidade do empreendimento, incumbindo-lhe operar com a cooperativa e participar das atividades sociais. Cada qual responde pelos seus atos, devendo conduzir-se com retidão moral e respeito às regras de convívio adotadas coletivamente.
 
7) Honestidade, que se liga à verdade por excelência. É uma das marcas de pessoas de elevado caráter. Tem a ver com retidão, probidade e honradez. Dignidade, enfim.
 
8) Transparência, que diz respeito à clareza, àquilo que efetivamente é, sem ambiguidade, sem segredo. No meio cooperativo, todos têm de ter conhecimento preciso sobre a vida da entidade: sua gestão, seus números, suas regras.
    
9) Consciência socioambiental, que se conecta ao compromisso do empreendimento cooperativo, naturalmente de caráter comunitário, com o bem-estar das pessoas e com a proteção do meio ambiente compreendidos na sua área de atuação, preocupação que envolve desenvolvimento econômico e social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais. A palavra-chave, aqui, é sustentabilidade. Pelo seu significado e a sua atualidade, estuda-se no âmbito da ACI dedicar ao tema um novo (8º) e exclusivo princípio universal do cooperativismo.
 
Essas, portanto, são as diretrizes mais abrangentes do movimento cooperativista, e influenciam a elaboração dos princípios e das regras aplicáveis a todas as organizações de natureza cooperativa nos quatro cantos do mundo. Mais publicações relacionadas:
 
A seguir algumas referências bibliográficas que podem enriquecer o artigo sobre os valores universais do cooperativismo:

  1. Holyoake, G. J. (2007). The history of co-operation. Este livro fornece uma visão abrangente da história do cooperativismo, desde seus primórdios até os desenvolvimentos mais recentes, destacando os desafios socioeconômicos que deram origem ao movimento cooperativista.

  2. Vanek, J. (1977). The general theory of labor-managed market economies. Esta obra oferece uma análise profunda da teoria econômica por trás das empresas cooperativas, explorando como os valores cooperativistas podem ser aplicados em modelos de negócios alternativos.

  3. International Cooperative Alliance. (2020). Cooperative Identity, Values & Principles. Este documento da Aliança Cooperativa Internacional oferece uma visão atualizada dos valores e princípios do cooperativismo, fornecendo uma base sólida para compreender a essência do movimento cooperativista.

  4. Global Entrepreneurship Monitor. (2020). Report on Social Entrepreneurship 2020/2021. Este relatório aborda o papel das cooperativas como formas de empreendedorismo social, destacando seu impacto positivo na sociedade e na economia, o que pode fornecer dados valiosos para apoiar os argumentos do artigo.

  5. Campos, S. M., & Souza, M. G. (2018). Cooperativismo e desenvolvimento regional: Uma análise das cooperativas de crédito rural no Brasil. Este estudo oferece uma análise detalhada do papel das cooperativas no desenvolvimento regional, destacando como os valores cooperativistas podem promover o crescimento econômico e a inclusão social.

  6. Marciano, E. M. (2016). Princípios e valores cooperativistas: Aplicações no setor agropecuário. Neste artigo, o autor explora como os princípios e valores do cooperativismo são aplicados no contexto específico do setor agropecuário, oferecendo insights valiosos sobre como esses valores são traduzidos em práticas comerciais reais.

 
 
 
 
 
 
 
 
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