Ainor Lotério conheceu Glauco Olinger em 1981, quando ingressou, após prestar concurso, para o quadro dos extensionistas da ACARESC-Associação de Crédito, Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina. Foi aluno no Curso Pré-Serviço da Extensão Rural, no CETRE-Centro de Treinamento da Acaresc, em Fpolis, tendo se destacado nas áreas de comuinicação, cooperativismo e agricultura. Logo foi trabalhar com agricultura diversificada e horticultura, em Camboriú-SC, onde está o Colégio Agrícola de Camboriú. Após dois anos foi trabalhar com jovens, nos Clubes 4-S (Saber, Servir, Sentir, Saúde), uma espécie de clube agrícola, com jovens rurais de Campos Novos-SC, onde fez intensas parcerias e trabalhos cooperativos com a Coopercampos, portanto o cooperativismo na veia.
O cooperativismo em Santa Catarina está impregnado de extensão rural e de extensionistas, pois a Acaresc, através seus extensionistas, está na origem da maioria das cooperativas agropecuárias catarinenses.
Observe o que diz o cooperativista e fundador da Cravil – Cooperativa Regional Agropecuária de Rio do Sul, Harry Dorow , “Nós aqui tivemos muita sorte, pois o então presidente da Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina – ACARESC, hoje Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI, o agrônomo Glauco Olinger, que também foi Secretário de Estado da Agricultura, era uma pessoa de conduta exemplar. Ele desenvolveu um trabalho muito interessante, que foram os clubes 4S, do qual eu fiz parte e mudou minha vida e de muitas outros jovens e famílias. O grande desafio meu foi ajudar a organizar os produtores de minha região, ainda mais sendo tão jovem.”
Como começou sua história com o cooperativismo?
Até então, o que eu sabia sobre cooperativismo havia aprendido na aula de Economia Rural da Faculdade, que tinha um conteúdo que era cooperativismo rural, ministrado pelo professor Edson Potsch Magalhães. Lembro que ele afirmou que a pobreza rural no Brasil só seria extinta por meio da organização de cooperativas entre os produtores rurais. Isso nunca mais saiu da minha memória. Foi no exercício de engenheiro agrônomo, atuando no fomento da agropecuária, que me encantei pelo cooperativismo de crédito, trazido pelos imigrantes alemães do Vale do Itajaí, denominado Raiffeisen. Aqui em Santa Catarina, no início da década de 1960, havia meia dúzia de cooperativas por produto, especialmente cooperativas de fumo, madeira e de mate, que não tinham expressão social nem econômica. Nessa época, no sul do estado, plantadores de arroz queixavam-se da exploração dos donos de engenhos, especialmente porque os agricultores não possuíam armazéns e secadores, relato que chegou até mim pelo engenheiro agrônomo Afonso Back, da extensão rural daquela região. Ele solicitou a construção de armazéns com secadores de cereais para que o agricultores não fossem obrigados a vender o arroz a qualquer preço na hora da colheita. Autorizei a construção de dois armazéns, um em Morro Esteves, no Sul, e outro em Guaramirim, no Vale do Itajaí. Entreguei para grupos organizados de agricultores e incentivei que se organizassem em cooperativas com a coordenação do Afonso, pois via cooperativa eu poderia financiar mais armazéns e secadores. Falei com o governador Ivo Silveira, que foi um grande incentivador do cooperativismo, para criar um fundo especial para desenvolver o cooperativismo, mediante a construção de armazéns equipados com secadores de cereais. Ele autorizou a criação do Fundo do Cooperativismo e colocou a gestão para a Acaresc. O então extensionista Erico Gebler, coordenador estadual do cooperativismo, teve grande influência nesse trabalho. O Erico e o Bach organizaram os agricultores, faziam reuniões, falavam sobre cooperativismo, quais as vantagens do sistema. Criamos uma coordenação estadual e coordenações regionais de cooperativismo. Em um ano, organizamos nove cooperativas no sul do estado. Em Chapecó, dois camaradas tiveram influência decisiva no grande cooperativismo que foi se desenvolver lá: o Setembrino Zanchet, do Banco do Brasil, e o Erico Gebler com o seu auxiliar que trabalhava em Chapecó, Rogério Remor. Os três iam nas comunidades, reuniam os agricultores, falavam sobre as vantagens do cooperativismo, ajudando assim a criar a Cooperchapecó, em que ganhou destaque o Aury Bodanese. O cooperativismo foi crescendo nas décadas seguintes, e hoje o sistema cooperativista agropecuário de Santa Catarina tem sob responsabilidade de 30 a 40% do agronegócio catarinense. “Sempre fui um apologista do cooperativismo. Ajudei inclusive a fundar a OCESC. Mas eu escutava: Cuidado que o Glauco é perigoso. Porque eu estava desenvolvendo cooperativismo, e o comércio não gostava.”, diz Glauco Olinger.
Uma pessoa me disse: “Ô Glauco, precisa dar um paradeiro nesse negócio de cooperativa porque já está prejudicando o comércio legalmente habilitado”. Recebi muita pressão para que a Acaresc parasse de estimular a criação de cooperativas agropecuárias, porque a turma de engenho e os cerealistas já estavam reclamando. A cooperativa é um freio para a especulação. Esse é um papel fundamental que pouco se tem explorado na divulgação do cooperativismo. Sem cooperativa, entra a especulação para cima do agricultor.