Por Ainor Lotério*
Tenho meio século de vida e já vi muita coisa em termos de fé. Há bem pouco tempo, não víamos uma pessoa expressar facilmente que não acreditava em Deus. Mas outro dia, em meio a um treinamento sobre cooperativismo, na tentativa de conscientizar novos associados de uma cooperativa, surgiu esta pérola: “Vocês sabem do ateu que se salvou?”.
A platéia ficou um tanto espantada, pois entre os integrantes creio que só havia pessoas com alguma religião, inclusive eu que creio em Deus.
Eis a estória: Certo homem morreu e foi bater à porta do céu.
Lá se deparou com o porteiro, São Pedro, que lhe perguntou: “Quem é você? Nunca o vimos em nenhuma de nossas igrejas, nem ouvimos seu clamor falando o nome do Senhor Deus? Como é que você veio para aqui?”
Responde o “elevado” ao céu: “Não foi por minha vontade que vim parar aqui! Eu morri, mas não queria ter morrido. Algo deu errado! Mas me faz um favor, porteiro do céu, mande-me de volta para a terra, lá para o lugar de onde eu vim! Lá sim era um céu!”
Porteiro do céu: “Afinal, o que você fazia lá embaixo que está com tanta vontade de voltar, pois pelo que sei as pessoas oram para terem uma boa hora da morte, todas querendo vir para cá?”
Ateu: “O que eu fiz? Ah, o que eu fiz foi adquirir e organizar uma propriedade agrícola sensacional, onde vivo com uma família amada, além de participar de uma grande cooperativa!”
Porteiro do céu: “Como era a sua família, a sua propriedade e essa tal de cooperativa?”
Ateu: “Como eram não! Como são! Elas estão lá funcionando muito bem! Estou com imensa saudade da minha esposa, com quem vivi mais de quarenta anos, dedicando a ela todo o meu amor e recebendo dela muito mais. Você sabe como são as mulheres agricultoras, não sabe? Tenho uma saudade dos meus filhos que aperta meu coração. Os meus dois guris e as duas gurias são os grandes amores meus e da minha esposa. Que saudade tenho deles. Aquela vida sim que era céu. Tenho uma vontade imensa de voltar para junto deles, continuar cuidando da nossa propriedade, da família, incentivando meus filhos a permanecerem no campo e sendo sócios da cooperativa, para deixar uma prova de amor à geração futura.”
Porteiro do céu: “Sim, e esta tal de cooperativa como funciona?”
Ateu: “Uma maravilha! Todos nós, os pequenos produtores, principalmente os familiares, nos dedicávamos o ano todo produzindo, melhorando a qualidade de tudo, recebendo apoio e assistência técnica, tendo a certeza de onde entregar a nossa produção para ser comercializada com seriedade.
Sabe, o mundo lá embaixo está ficando um tanto difícil, tudo está montado encima das leis do mercado, o câmbio internacional é a nova praga, ele derruba o valor dos nossos produtos do dia para a noite, mesmo que nossa produtividade tenha aumentado. Mas, graças à nossa cooperativa conseguimos trabalhar com dinheiro e sem desavenças. Há um pessoal muito sério dirigindo nossa entidade. Tudo vai bem e estou com muita saudade, pois aprendemos a enfrentar juntos os nossos problemas, buscando as soluções!”
Porteiro do céu: “Aguarde um pouco, senhor, que eu vou falar com Deus sobre o seu caso!”
Ao votar dirige-se ao ateu dizendo: “Sabe o que Deu me falou? Você pode entrar e viver no céu!”
Ateu: “Mas, eu não posso escolher ficar ou voltar?”
Porteiro: “Poder você pode, mas Deus quer no céu homens que souberam cuidar da sua família, amar sua esposa e filhos, zelar a terra, planejar e produzir alimentos para a humanidade, viver em espírito cooperativo, incentivar seus filhos a continuarem no campo. Isto é tudo o que pedimos a todos de todas as religiões e credos, mas eles pensam que basta dizer ‘Senhor, Senhor para entrar no Reino de Deus’, mas não é assim.
Sem se declarar um homem religioso você fez tudo o que Eu recomendo para construir o sonho dourado: fazer do mundo uma casa de irmãos, uma grande cooperativa!”
Entendo que devo acreditar em Deus, ter uma família, viver princípios e valores (lealdade, ética, fidelidade, amor ao próximo, etc) não para me considerar melhor do que “os outros” (incrédulos, separados, abandonados,…), mas para melhorar minha comunidade, meu município, meu estado, o meu país, o mundo.
Faça valer suas idéias na prática!
Dê o melhor de si hoje a sua família, coloque sua terra dentro da sua mente e coração, produza com qualidade e incentive seus filhos e filhas a serem agricultores, daqueles que transformam a agricultura num paraíso, negócio e filosofia de vida.
Quem cuida de si, da família, da sua propriedade e participa da sua cooperativa efetivamente, mesmo que diga ser um ateu, só pode ser um homem de rica e esplêndida fé! Para mim isto é Alfa e Ômega, ou seja, Princípio e Fim de uma vida próspera e feliz, independentemente da fé que aparentemente temos, pois é fundamental a nossa coerência e prática diária!
*Engenheiro Agrônomo, filho de agricultores familiares e cooperativistas, palestrante – www.ainor.com.br –(47)3365-0264 – contato@ainor.com.br